quarta-feira, 17 de agosto de 2011

06 Dec 2010 - Passeio para observação de aves ... ou não!

O suspense estava-me a deixar inquieta! Aqui não há insonorização ... eu ouço tudo que se passa lá fora e nas cabanas vizinhas. Ouço o que quero e não quero, claro está! Mas na noite anterior estava particularmente atenta. Consegui ouvi-los na volta rirem-se mas dado o estado alterado deles não consegui perceber o que diziam aos room-mates, Alex e Mike. Pareciam falar polaco, tinham a lingua entaramelada!! Por onde teriam andado as suas consciências? Só soube ao almoço quando um Todd- histérico, e um Russel- circunspecto, apareceram.
Duas pessoas, duas experiências distintas. O Todd teve uma "out-of-body experience", viu o espirito dele sair do corpo e viajou no tempo e no espaço. Falou do universo e de ter vontade de se lançar num precipicio. Estava eufórico e sentia que devia reflectir seriamente sobre o que tinha sentido e vivido enquanto esteve desmaiado. Do Russel foi dificil arrancar uma palavra, apenas algo como "It was crazy man!" . Fosse como fosse, estava mais falador do que antes, pois este ser gigante era o mais calado dos quatros americanos. A Ayahuasca pode não lhe ter soltado o espiríto mas soltou-lhe a língua!
Depois de almoço saímos para um breve passeio de observação de aves no Lago Apuvictor. Mais uma caminhada pelo mundo dos mosquitos. De referir que devo ter deixado entrar algum, ou os safados penetram pelos buracos da rede. Seja de um modo ou outro, fui dormir sem colocar repelente e acordei toda aos papos! Conselho que deixo a que vier, nada de dormir sem "sprayzar" o corpo com uma dose generosa de anti-mosquitos!
E lá fomos, pelo meio da floresta densa até chegar a um posto de observação onde nos sentamos em silêncio contemplador. O guia com o seu olhar aguçado deu logo com um caimão na água! Nada mais que uns olhos que nos observavam as nós! É caso para pensar quem está ali para ver quem?

Ao fundo uma ave, depois outra! Andam as duas a saltar de galho em galho! Mas queremos papagaios, catatuas, araras!! Queremos bandos de vermelho e azul e branco a rasgar o céu!! Afinal de contas estamos na Amazónia, a nossa mente está recheada destas imagens! Mas meia hora passa e nada! Mais meia hora e um pica-pau! Caramba!! Não vem pelo menos um bando de porcos selvagens beber ao lago? Raios e coriscos!

Tirando um casal de araras que passaram não tivemos sorte de observar mais nada! Enfim, acho que nem o caimão ficou contente. Afinal de contas o grupo de humanos que estava a observar nem se mexeu!
Valeu-me a sesta de fim de dia numa rede com vista para o rio Madre de Dios! Ai que bom a pacatez da selva. Salvo ser um festim para os mosquitos e seria perfeito!

Momento para uma foto de grupo, uma vez que no dia seguinte regressavamos todos a Lima!
Da esquerda para a direita:
Fila de cima : Russel, Andrés, o Guia
Fila de baixo : Mike , Alex , Eu, Todd, Xavi

terça-feira, 16 de agosto de 2011

05 Dec 2010 - O mergulho no desconhecido e o ritual da Ayahuasca

04 Dec
Quando despertei, bem cedo, já se sentia o calor e sobretudo o peso da humidade na atmosfera. Nestes climas nunca nos abandona a sensação de sujidade! Mas quem se importa, quando isso significa estar num sitio destes!
A noite tinha sido passada a imaginar que bicho andaria a passear no telhado da minha cabana. Só se ouvia as patas pesadas do dito "Toc Toc Toc Toc", tudo o resto era uma incógnita! Não é muito agradável estar fechada num sítio rodeada de bicharocos que se podem lembrar de roer a rede que nos separa (sim, rede. A cabana não é toda de madeira) e acordar com eles a vasculhar o quarto à procura de comida! Já por isso, é política do lodge proibir os hospedes de levar comida para o quarto. Apenas água é permitida. Estes bichos são uns malandros esfomeados!
Ao pequeno-almoço não se falava doutra coisa. Pelos vistos, vários telhados tinham sido "vandalizados" por algo que os meus carismáticos companheiros espanhóis chamaram de "una rata". Neste momento, irrompe na mesa uma sonora gargalhada portuguesa!
- Una quê, Xavi ?
- Una rata, Joana. Porquê, que passa tia que te meas riendo?
Não fui capaz de deixar o rapaz na ignorância e os momentos seguintes foram um precioso e valioso intercâmbio linguistico-cultural!
Tempo de partir e todos preparados para mais uma Aventura na Selva (que me perdoem a Isabel Alçada e a Ana Maria Magalhães pelo plágio).
A bordo do bote subimos o rio até entrarmos num afluente mais estreito, cingido nas margens por ramos de arvóres que pareciam desmaiar sobre a água . Deve ser da "humedade" como diz a outra.








Depois de quase uma hora, param o barco no meio do nada e entregam-nos para a mão um projecto de cana-de-pesca primitivo: um galho com um fio e um anzol. Os Peruanos estavam, evidentemente, a testar a capacidade dos City Slickers para a pesca. E o resultado foi vergonhoso: um mísero peixe pescado pelo Todd (e devolvido à liberdade, claro). A mim, os peixes conseguiram iludir a minha concentração e perícia roubando o meu isco do anzol nada mais que QUATRO vezes! Não sou dotada de grandes dotes de sobrevivência.

Mas no que toca ao desafio de mergulhar no desconhecido, num mundo de total escuridão e opacidade, habitado por seres como caimões, anacondas, piranhas e demais fauna perigosa?! Prova superada minha gente!
A verdade é que a força do grupo supera os medos individuais. Eu na verdade não queria, mas quando vi os meus companheiros a fazê-lo sou assaltada por uma vaga de coragem e ... Catchapum! UUUUUUUU é a loucura! Estou a nadar num coisa castanha! Mas é bom, é fresquinho, é ... AAAAAAAAIIIIIIIIIIII que coisa é esta que me roça os pés ?? Um ramo de uma árvore? Pode ser, mas pelo sim pelo não, já me refresquei e quero subir para a segurança do interior do barco!


Que experiência palpitante!


De volta ao lodge deparamos com a um grupo algo hippie a fazer o check-in. Chegados dois dias antes, já nos consideravamos anciões e logo quisemos saber quem eram estes seres raros e diferentes, com traços faciais arianos?
Isto faz-me recuar a uma explicação, já dada pelo nosso guia sobre a selva, plantas medicinais e rituais realizados na selva por xamãs. Na selva amazónica este ritual de purificação do corpo e de alma é recorrente e para tal o xamã faz uma bebida chamada Ayahuasca. Há quem lhe chame ritual de purificação, eu chamo-lhe o LSD da selva. O resultado destes rituais são uma série de alucinações, estados de profunda alteração de consciência. Espiritualmente chamam-lhe o elevar da alma, o "despertar da divindade interna".
Dois dos nossos amigos americanos decidiram participar no ritual, eu achei por bem continuar com o meu estado de vigilia intacto. Algo não me soou bem na minha consciência. Estava na selva, a horas de distância do hospital mais perto. Eu gosto de experiência diferentes mas pensar que algo pode correr mal e não ter como sair dali, optei por não arriscar.

O nosso grupo misterioso tinha vindo da Polónia(!!!) para participar num destes rituais! Eram cerca de 15 pessoas, desde os vinte aos sessenta, pertenciam a um grupo espírita e bastante antipáticos. Só falavam entre eles e raramente sorriam. Já viram tamanha contradição? vem participar num rito que promove a elevação do ser mas no plano terrestre não capazes de esboçar um sorriso ao seu semelhante?
Melhor mesmo é disfrutar da companhia dos meus meninos numa partida de matrecos e setas!
Foi um mundialito Portugal vs Espanha, desastroso para nós! Consegui defender a nossa dignidade nos primeiros sets mas fui aniquilada algures a partir do terceiro round! GRRRRR
Maldita supremacia desportiva masculina!
A preparação dos participantes no ritual da Ayahuasca passava por um jejum de algumas horas, pelo que o Todd e o Russel não nos fizeram companhia ao jantar! Só no dia seguinte saberiamos como tinha sido! Às dez da noite era o recolher forçado por falta de electricidade e a reunião só iniciava depois!
A noite foi recheada de grunhidos estranhos vindos da cabana. Seria o xamã a invocar os espíritos? Seriam os nossos amigos a vomitar?