quarta-feira, 17 de agosto de 2011

06 Dec 2010 - Passeio para observação de aves ... ou não!

O suspense estava-me a deixar inquieta! Aqui não há insonorização ... eu ouço tudo que se passa lá fora e nas cabanas vizinhas. Ouço o que quero e não quero, claro está! Mas na noite anterior estava particularmente atenta. Consegui ouvi-los na volta rirem-se mas dado o estado alterado deles não consegui perceber o que diziam aos room-mates, Alex e Mike. Pareciam falar polaco, tinham a lingua entaramelada!! Por onde teriam andado as suas consciências? Só soube ao almoço quando um Todd- histérico, e um Russel- circunspecto, apareceram.
Duas pessoas, duas experiências distintas. O Todd teve uma "out-of-body experience", viu o espirito dele sair do corpo e viajou no tempo e no espaço. Falou do universo e de ter vontade de se lançar num precipicio. Estava eufórico e sentia que devia reflectir seriamente sobre o que tinha sentido e vivido enquanto esteve desmaiado. Do Russel foi dificil arrancar uma palavra, apenas algo como "It was crazy man!" . Fosse como fosse, estava mais falador do que antes, pois este ser gigante era o mais calado dos quatros americanos. A Ayahuasca pode não lhe ter soltado o espiríto mas soltou-lhe a língua!
Depois de almoço saímos para um breve passeio de observação de aves no Lago Apuvictor. Mais uma caminhada pelo mundo dos mosquitos. De referir que devo ter deixado entrar algum, ou os safados penetram pelos buracos da rede. Seja de um modo ou outro, fui dormir sem colocar repelente e acordei toda aos papos! Conselho que deixo a que vier, nada de dormir sem "sprayzar" o corpo com uma dose generosa de anti-mosquitos!
E lá fomos, pelo meio da floresta densa até chegar a um posto de observação onde nos sentamos em silêncio contemplador. O guia com o seu olhar aguçado deu logo com um caimão na água! Nada mais que uns olhos que nos observavam as nós! É caso para pensar quem está ali para ver quem?

Ao fundo uma ave, depois outra! Andam as duas a saltar de galho em galho! Mas queremos papagaios, catatuas, araras!! Queremos bandos de vermelho e azul e branco a rasgar o céu!! Afinal de contas estamos na Amazónia, a nossa mente está recheada destas imagens! Mas meia hora passa e nada! Mais meia hora e um pica-pau! Caramba!! Não vem pelo menos um bando de porcos selvagens beber ao lago? Raios e coriscos!

Tirando um casal de araras que passaram não tivemos sorte de observar mais nada! Enfim, acho que nem o caimão ficou contente. Afinal de contas o grupo de humanos que estava a observar nem se mexeu!
Valeu-me a sesta de fim de dia numa rede com vista para o rio Madre de Dios! Ai que bom a pacatez da selva. Salvo ser um festim para os mosquitos e seria perfeito!

Momento para uma foto de grupo, uma vez que no dia seguinte regressavamos todos a Lima!
Da esquerda para a direita:
Fila de cima : Russel, Andrés, o Guia
Fila de baixo : Mike , Alex , Eu, Todd, Xavi

terça-feira, 16 de agosto de 2011

05 Dec 2010 - O mergulho no desconhecido e o ritual da Ayahuasca

04 Dec
Quando despertei, bem cedo, já se sentia o calor e sobretudo o peso da humidade na atmosfera. Nestes climas nunca nos abandona a sensação de sujidade! Mas quem se importa, quando isso significa estar num sitio destes!
A noite tinha sido passada a imaginar que bicho andaria a passear no telhado da minha cabana. Só se ouvia as patas pesadas do dito "Toc Toc Toc Toc", tudo o resto era uma incógnita! Não é muito agradável estar fechada num sítio rodeada de bicharocos que se podem lembrar de roer a rede que nos separa (sim, rede. A cabana não é toda de madeira) e acordar com eles a vasculhar o quarto à procura de comida! Já por isso, é política do lodge proibir os hospedes de levar comida para o quarto. Apenas água é permitida. Estes bichos são uns malandros esfomeados!
Ao pequeno-almoço não se falava doutra coisa. Pelos vistos, vários telhados tinham sido "vandalizados" por algo que os meus carismáticos companheiros espanhóis chamaram de "una rata". Neste momento, irrompe na mesa uma sonora gargalhada portuguesa!
- Una quê, Xavi ?
- Una rata, Joana. Porquê, que passa tia que te meas riendo?
Não fui capaz de deixar o rapaz na ignorância e os momentos seguintes foram um precioso e valioso intercâmbio linguistico-cultural!
Tempo de partir e todos preparados para mais uma Aventura na Selva (que me perdoem a Isabel Alçada e a Ana Maria Magalhães pelo plágio).
A bordo do bote subimos o rio até entrarmos num afluente mais estreito, cingido nas margens por ramos de arvóres que pareciam desmaiar sobre a água . Deve ser da "humedade" como diz a outra.








Depois de quase uma hora, param o barco no meio do nada e entregam-nos para a mão um projecto de cana-de-pesca primitivo: um galho com um fio e um anzol. Os Peruanos estavam, evidentemente, a testar a capacidade dos City Slickers para a pesca. E o resultado foi vergonhoso: um mísero peixe pescado pelo Todd (e devolvido à liberdade, claro). A mim, os peixes conseguiram iludir a minha concentração e perícia roubando o meu isco do anzol nada mais que QUATRO vezes! Não sou dotada de grandes dotes de sobrevivência.

Mas no que toca ao desafio de mergulhar no desconhecido, num mundo de total escuridão e opacidade, habitado por seres como caimões, anacondas, piranhas e demais fauna perigosa?! Prova superada minha gente!
A verdade é que a força do grupo supera os medos individuais. Eu na verdade não queria, mas quando vi os meus companheiros a fazê-lo sou assaltada por uma vaga de coragem e ... Catchapum! UUUUUUUU é a loucura! Estou a nadar num coisa castanha! Mas é bom, é fresquinho, é ... AAAAAAAAIIIIIIIIIIII que coisa é esta que me roça os pés ?? Um ramo de uma árvore? Pode ser, mas pelo sim pelo não, já me refresquei e quero subir para a segurança do interior do barco!


Que experiência palpitante!


De volta ao lodge deparamos com a um grupo algo hippie a fazer o check-in. Chegados dois dias antes, já nos consideravamos anciões e logo quisemos saber quem eram estes seres raros e diferentes, com traços faciais arianos?
Isto faz-me recuar a uma explicação, já dada pelo nosso guia sobre a selva, plantas medicinais e rituais realizados na selva por xamãs. Na selva amazónica este ritual de purificação do corpo e de alma é recorrente e para tal o xamã faz uma bebida chamada Ayahuasca. Há quem lhe chame ritual de purificação, eu chamo-lhe o LSD da selva. O resultado destes rituais são uma série de alucinações, estados de profunda alteração de consciência. Espiritualmente chamam-lhe o elevar da alma, o "despertar da divindade interna".
Dois dos nossos amigos americanos decidiram participar no ritual, eu achei por bem continuar com o meu estado de vigilia intacto. Algo não me soou bem na minha consciência. Estava na selva, a horas de distância do hospital mais perto. Eu gosto de experiência diferentes mas pensar que algo pode correr mal e não ter como sair dali, optei por não arriscar.

O nosso grupo misterioso tinha vindo da Polónia(!!!) para participar num destes rituais! Eram cerca de 15 pessoas, desde os vinte aos sessenta, pertenciam a um grupo espírita e bastante antipáticos. Só falavam entre eles e raramente sorriam. Já viram tamanha contradição? vem participar num rito que promove a elevação do ser mas no plano terrestre não capazes de esboçar um sorriso ao seu semelhante?
Melhor mesmo é disfrutar da companhia dos meus meninos numa partida de matrecos e setas!
Foi um mundialito Portugal vs Espanha, desastroso para nós! Consegui defender a nossa dignidade nos primeiros sets mas fui aniquilada algures a partir do terceiro round! GRRRRR
Maldita supremacia desportiva masculina!
A preparação dos participantes no ritual da Ayahuasca passava por um jejum de algumas horas, pelo que o Todd e o Russel não nos fizeram companhia ao jantar! Só no dia seguinte saberiamos como tinha sido! Às dez da noite era o recolher forçado por falta de electricidade e a reunião só iniciava depois!
A noite foi recheada de grunhidos estranhos vindos da cabana. Seria o xamã a invocar os espíritos? Seriam os nossos amigos a vomitar?

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

04 Dec 2010 - A cocha perdida e a Anaconda encontrada

Os ruídos da selva durante a noite são novidade para mim , tentava pensar que estava protegida pelas paredes do quarto mas sempre que fechava os olhos para tentar dormir imaginava-me perdida lá no meio . Isto é o que dá ver os documentários da National Geographic em que uns quantos desgraçados ou se perdem na Amazónia ou caem a um rio cheio de hipopotamos ou ficam dias a sobreviver no deserto sem água ou comida até que alguém os resgate . Não é algo agradável de nos lembrarmos quando estamos num sitio destes .



 O despertar para não variar foi às 05h00 , pois às 06h00 iniciavamos o dia mais longo de passeio.



Um trajecto de barco a motor até à margem e começarmos a caminhar em silêncio durante uma hora . Pelo caminho fomos vendo espécies de arvóres que o guia nos ia explicando apaixonadamente o que eram e para que serviam . Eles aqui fazem medicina de tudo , é como ter a farmácia no quintal . Até existem arvores que dão para fazer roupa !


Roupa ... faz-me lembrar que quando aqui cheguei dei conta que quase não tenho roupa lavada para o resto das férias ! E aqui não há lavandaria ! Há que ser prático e lavar umas quantas peças essenciais como cuecas e meias e deixar a secar no quarto . O resto não dá para lavar por isso tive que eleger umas calças para os dias todos. Não ia encher de repelente toda a roupa que levava . Mas não era única nesta situação , os meus amigos também usavam a mesma roupa todos os dias e acho que os mosquitos não se chegavam mas por causa do nosso repelente natural .


Na verdade os mosquitos seguem-nos para todo o lado que vamos e quando observamos os colegas que caminham à nossa frente existe sempre um enxame deles à volta , à procura daquele bocadinho de pele onde não tenhamos passado o repelente para nos picar ! Eles chegam a pousar na pele mas não ferram quem teve cuidado . Mas nunca nunca desistem ! O efeito é um zumbido permanente à nossa volta e todos a enxotá-los ! Mesmo por cima da roupa picam ... ai os gajos !



Depois da primeira caminhada chegamos a um lago e ainda bem que havia tantos homens , era preciso remar mais que uma hora seguida , até atravessar o lago e fazer outra caminhada a pé ! É tão bom ser mulher nestas ocasiões e ainda para mais com uma tendinite no pulso e um problema no ombro que me impede de grandes esforços ! EH EH EH Força rapazes que a donzela aproveita a paisagem ! Fiz de timoneira .... também é um papel importante !








Neste primeiro lago observamos várias aves tipicas : de rapina , necrófagos , papagaios , tucanos e uma mega teia de aranha com a sua tarântula residente ! Esta teia tinha mais de um metro de diâmetro por um metro de profundidade . Era uma meia bola gigante que servia de "condominio fechado" !


Queria perceber de pistas para poder dizer como o guia que animais tinham andado a chafurdar na lama ou a passear pelo mesmo caminho que nós , mas é claro que para mim pegada é pegada ! Sei lá dizer se era dum porco selvagem ou de um tapir ! Mas que eles andavam por ali andavam que os excrementos eram recentes !

Tirando uns quantos macacos que vimos no regresso e um marsupial a descer uma árvore a fugir de nós não tive oportunidade de ver nada de espectacular ! Tirando a Anaconda claro !


Mas antes de chegarmos à Anaconda ainda tivemos muito que suar ! Depois do lago mais uma caminhada até encontrarmos um mirador de 50 metros de altura . Pus-me a olhar de baixo a pensar se subia .... que vertigens ... mas não quis dar parte fraca ! Lá em cima estava-se bem porque corria uma brisa impossivel de sentir quando se está sob um tufo de vegetação .



Finalmente chegamos à cocha perdida ou lago perdido e metemo-nos todos num bote para uma visita de inspecção ! Sempre em absoluto silêncio fomos contornando as margens do lago à procura de bichinhos . Podiam ser caimões , capivaras , porcos selvagens ... qualquer bichinho servia para tirarmos uma foto mas depois de um tempo o que vimos não era propriamente um "bichinho" mas sim uma senhora Anaconda a descansar no meio da vegetação ! O guia assobiou e apontou e num ápice todos estavamos em pé a vê-la . Acho que nunca tive tanto medo na minha vida ... aparentam ser menos perigosas quando as vejo sob a protecção confortável de um vidro no zoo . Além de que o bote abanava por estarmos todos em pé ! Era só um de nós cair para receber um forte abraço da senhora e no fundo ela só nos viria cumprimentar nada mais ! Eu nem fotos consegui tirar porque estava mais preocupada em não perder o equilibrio e ir parar à água ! O corpo dela repousava em ziguezague e devia ser enorme porque a ilhota no meio do lago onde estava não era suficiente para o ser corpanzil todo ! E incomodava-me não lhe ver a cabeça , sabia lá para onde é que ela estava a olhar ? E se era para a minha rica coxinha ali ao alcance de um salto ? O tempo que andamos ali à volta pareceu-me uma eternidade ! Eu já só queria ir-me embora !

De volta a terra o tema de conversa era claro a Anaconda e todos os filmes que já se fizeram, qual seria de nós o que ficaria para o fim como o herói ! Conversa de gajo claro ! Não é mais agradavel falar de manicure do que ficar a pensar que iamos todos morrer na selva ?!!!

O trajecto de regresso não foi pêra doce ! Duas horas e meia a pé ! Saímos do logde às 06h00 e voltamos 14h00 ! Estivemos quase oito horas a caminhar e nem demos conta .

Chegamos exaustos nessa tarde e fui direitinha ao duche , lavar aquela mistela que me empastava a pele . Uma mistura de repelente , protector solar e suor !

Da estadia na Amazónia esta foi a experiência mais relevante e assutador. O resto do dia foi passado em convivio com a minha equipa de guarda costas ! Não há mais nada que fazer a não ser : bilhar , ping-pong , matrecos e setas !

No dia seguinte ia nadar num dos afluentes do Rio Madre de Dios !! Não acreditam ?? nem eu queria acreditar mas é verdade que o fiz !

domingo, 12 de dezembro de 2010

03 Dec 2010 - Puerto Maldonado - A Selva e a surpresa do isolamento !

Aproveitei que fui a casa do Pedro para ir de bagagem mais leve , deixando entre outras coisas, as minhas preciosas botas que agoram reluziam de graxa.


Quando cheguei a Puerto Maldonado fui saudada com 34 graus de calorzinho bom ! Humm que delicia !

O staff do Eco Amanzonia Logde http://www.ecoamazonia.com.pe/ recebe-nos no aeroporto e vamos todos para o centro , para a oficina do Logde receber algumas instrucções básicas antes de ir para a selva . Assim no caso de nos faltar algum item temos oportunidade de o comprar no mercado de Puerto Maldonado. Desde água a snacks , repelente , sapatilhas , lanternas , impermeaveis tudo existe na mega feira de Custóias aqui do sitio !









Puerto Maldonado é diferente das outras cidades que visitei , as casas em vez de tijolo de barro ou tijolo normal são maioritariamente feitas de madeira e todas pintadas de cores garridas o que nos oferece um cenário alegre à vista .


Durante a aproximação do voo avistei um enorme caudal de rio cor de laranja vivo que contrastava lindamente com o verde da selva , o rio serpenteava por entre a vegetação e a dado momento unia-se a outro completamente castanho a a cor laranja desaparecia totalmente . Nunca tinha visto nada assim.


Da cidade ao logde fazemos uma hora e meia de barco no rio Madre de Dios para percorrer 30 kms de distância . O hotel fica numa reserva ecológica conhecida com Tambopata e fomos informados que não iriamos ter cobertura de telemovel , nem internet e que mesmo a electricidade estava sujeita a horários - duas horas durante o almoço e cinco horas à noite , das 17h00 às 22h00. A partir dessa hora era lights-out para todos e estavamos entregues à bicharada . Fomos instruidos de não ter qualquer tipo de comida no quarto pois isso poderia atrair qualquer convidado inesperado ao quarto durante a noite ... que medo !

Fui observando o grupo que ia comigo no barco :
- uma familia peruana , pai , mãe e um casal de filhos na casa dos vinte.
- duas raparigas que falavam inglês com ar de importantes .
- dois espanhóis
- e quatro jovens americanos de mochilas


Com alguém iria falar de certeza durante estes quatro dias . Viajando sozinhos temos sempre mais hipóteses de estabelecermos contactos porque não temos nenhum amigo a quem nos ancorar . E eu graças a mim , não sou muito timida e acabo sempre por conversar com alguém .


Contra as minhas expectativas uni-me muito aos quatro putos americanos e aos dois espanhóis . Fomos os desasossego da selva naqueles quatros dias . Eu imagino os animais a observarem-nos e a pensarem mas quem são estes "animais" tão galhofeiros ? sempre a rir? ... estes humanos são mesmo estranhos !

Vamos às apresentações :

De Espanha - o Andrés ( País Vasco ) e o Javi ( Cartagena mas a viver em Barcelona ) . Gajos bem dispostos e sempre com piadas non-sense . Era impossivel não me dar bem com eles , estavamos no mesmo registo idiota ! E bem gatos por sinal

O Andrés é informático e o Javi trabalha com combustiveis no aeroporto de Barcelona. Moços andadeiros que todos os anos fazem férias dedicadas ao trekking . Eu e o Javi divertimo-nos a pregar partidas ao Andrés que às vezes parecia andar no mundo da lua .

Dos E.U.A - O Alex , o Russel , o Todd e o Mike . Todos tinham 20 anos e estudavam ciências politicas em Buenos Aires havia 4 meses . Estavam a fazer uma férias escolares . Eram impecáveis . Eu particularmente sou bastante preconceituosa em relacção a americanos e confesso que tenho tendência a etiquetá-los de arrogantes e presunçosos mas estes muidos eram amorosos , super curiosos por tudo que era diferente da cultura deles , interessados e muito educados . De todos os americanos que conheci estes dominavam perfeitamente o espanhol e faziam sempre questão de falar connosco em espanhol para aperfeiçoar o sotaque e a gramática . "Fustigaram" o Andrés e o Javi de dúvidas e faziamos muitas comparações entre termos de Espanha e da América do Sul .


Na primeira tarde fomos todos de visita à ilha dos macacos . Em frente ao lodge , do outro lado do rio , existe uma ilha onde o pessoal do hotel realojou macacos que estavam em cativeiro em Puerto Maldonado . É um projecto de muitos anos que pretende devolver os bichos ao mundo selvagem e já existem muitos macacos que nasceram na ilha e que apesar de habituados ao contacto com humanos são já selvagens .



O guia antes de ir disse-nos que era fundamental levar : água , repelente , protector solar e calçado adequado ( neste caso umas galochas que emprestam no hotel ) . E lá fomos nós os sete mais as duas raparigas com ar de vips .

Ao fim de uns minutos de caminhada o primeiro macaco a vir-nos dar as boasvindas foi um saguizinho atrevido que saltava de pescoço em pescoço a ver qual de nós lhe dava boleia nas costas e um bocadinho de banana !



Estavamos todos divertidos com o pequeno acrobata quando sentimos a vegetação em redor a mexer e de repente vimos um macaco aranha a descer as arvores muito focado na nossa direcção . O macaco sai da arvore e vai direitinho a uma Vip que trazia uma garrafa de água na mão . Trepa por ela acima e começa uma "batalha" pela garrafa de água . O guia só lhe pedia - larga a garrafa senão ele sem querer magoa-te ! . Nós estavamos estarrecidos com a determinação do macaco ! Mal teve a garrafa em seu poder não descansou enquanto não a abriu com os dentes e subitamente senta-se consolado a beber água mineral ! Nem o guia lhe tocou enquanto ele não ficou saciado ! Pelos vistos todos adoram o sabor da água engarrafada , não sei se serão memórias de quando estavam em cativeiro ou se a provaram estando já na ilha mas a verdade é que todos gostam tanto que depois deste todos os macacos que foram aparecendo queriam beber da garrafa ! Que insólito !!




Fomos caminhando histéricos de riso com a história até chegar a uma clareira onde estão dispostas bancadas para alimentar os macacos . Eles simplestemente vão aparecendo e surrupiando todos os pedaços de banana que podem . Às vezes esquecendo-se que precisam das patas para voltar a trepar às arvores e então ficam na indecisão ? largo a banana ou trepo ? É engraçado ver as expressões deles . Os mais medricas não descem e aguardam até que um turista se lembre de começar a atirar bocados de banana para os ramos , funciona lindamente e assim ficam todos satisfeitos .


































Para uma primeira vez na selva estava a ser fantástico e depois do jantar ainda tivemos a oportunidade de sair de bote em plena noite para ir ver caimões . Uma experiência muito National Geographic .


Andar de barco , em silêncio total , sem luz a não ser o foco que usam para detectar os caimões e conscientemente no meio de um rio com meio kilometro de largura foi .... de suspirar de alegria e pensar ... é mesmo verdade ... eu estou aqui !



Fui para a cama feliz !

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

02 Dec 2010 - Chiclayo e a morte da minha maquina fotográfica

O meu interesse em Chiclayo, uma vez que a cidade em si nao tem nada, era puramente para ver o espólio do senhor de Sipan , o complexo arqueologico de Tucume e a Huaca Rajada. Sou uma freak por estas coisas. Bem , na verdade , considero-me bastante eclética , gosto tanto de cultura como praia , como cidades !!










Chego a Chiclayo às 09h30 e o tour começa de imediato. Se no dia anterior não tinha tido ninguém com quem falar para além do guia neste dia conheci um grupo muito diverso . O Pablo , argentino , o Daniel australiano e a Maribel peruana arequipeña . Todos verdadeiros mochileiros.


O Pablo tem dois empregos em part-time . De manhã é bancário e de tarde .... carpinteiro ! Dá para imaginar ? Viaja com autenticas reliquias nos pés . Desde há dez anos que sempre vai mundo fora usa as mesmas sapatilhas ! Mais parece que traz umas mascotes calçadas ! Estão praticamente desfeitas ao ponto de se verem os dedos dos pés ! Devem ser uma amuleto ou algo do genero !
O Daniel é um australiano com um sotaque quase impossivel de entender e a onda dele o Surf ! Com ele não há stress , só boa disposição e relax ! Para tudo é take it easy . Só trabalha para ter dinheiro para andar a surfar em todo o lado . E claro que já tinha ouvido falar da Ericeira . Em Sidney trabalha no ramo da construção civil e faz planos de viajar por um ano mas sempre que o dinheiro aperta regressa para mais uns meses ao trabalho para ganhar o suficiente para partir de novo . O acessório indispensavel dele nas viagens é a música , em Cuzco partiu o Ipod e mandou vir de casa outro porque não suporta a falta de música .
A Maribel é 100% latina , toda ela é fogo. Fala alto e com gestos , ri-se muito e ruidosamente e tem sempre que ter razão .

Ela e o Daniel conheceram-se em Arequipa e são uma espécie de namorados temporários , enquanto o trajecto for favoravel aos dois. A dinâmica entre eles é fenomenal pois são o casal mais improvavel mas que funciona . O Daniel goza com a impetuosidade dela e o facto de estar sempre a reclamar e ela ri-se histérica mas nunca se cala . E mais engraçado é que o Daniel nao fala espanhol mas percebe quase tudo e a Maribel mal fala inglês !

Eu o Pablo passamos o dia a deitar axas á fogueira entre eles mas os quatro divertimo-nos imenso com isso !




O complexo arqueologico de Tucume e a Huaca Rajada pertencem ambos ao tempo da cultura Moche e salvaram-se de ser saqueados serem descobertos em 1987 porque o tempo e as intempéries fizeram com que as piramides de barro se assemelham-se a simples montes disfarçados completamente na paisagem da região.


Por este motivo na Huaca Rajada descobriram até agora 15 túmulos completamente intactos e recheados de peças de cobre , ouro , cerâmica e esqueletos . A Huaca Rajada servia como local de enterro ceremonial para pessoas importantes e foi feita em forma piramidal ao longo dos séculos que os Moche habitaram a zona . Ainda hoje realizam escavações e continuam a encontrar sepulturas.

 
A mais importante de todas foi a do Senhor de Sipán , um dos governantes da época. Enterrados com ele estavam a mulher , duas concubinas , um guerreiro , dois homens , um menino , um lama e um cão que voluntariamente ou não foram sacrificados na altura da sua morte. Juntamente com 1600 peças todas em exposiçao no Museu das Tumbas Reales de Sipan que visitamos no fim do dia.


Outros achados importantes foram os tumulos de um sacerdote , dum chefe militar e do velho senhor de Sipan , cujos testes de ADN provaram ser o tetra-avô do senhor de Sipan.

Eu , o Pablo e o Daniel partilhavamos um problema comum - todas as nossas máquinas fotográficas tinham problemas !

A do Daniel parecia um chocalho , a do Pablo tinha uma uma mancha monstra no visor e de vez em quando também não ligava . A minha estava cada vez pior . O que eu achava que poderia ser apenas um problema mecânico transformou-se num problema electrico . De tanto puxar o botão com o meu travessao Macguiveriano baralhei os circuitos da dita e agora nenhum botão funcionava . Lá consegui uma maneira original de ir tirando fotos . Desligava a máquina abrindo o compartimento das pilhas e ligava fechando o mesmo compartimento. Desta maneira conseguia tirar uma única foto de cada vez. A cada foto que tirava tinha que repetir o processo todo de novo . Abre , fecha , dispara , abre , fecha , dispara ! E claro rezava para que a máquina estivesse a gravar as fotos no cartão de memória !! Como os botões não funcionavam não tinha como saber até poder inspeccionar o cartão num computador , mas as minhas preces eram fortes !! Não sabia muito bem que mais podia fazer mas ainda me faltavam 6 dias de viagem e iria ter que arranjar uma solucção , a minha querida máquina contra todas as minhas expectativas estava no fim de vida . Por pouco não a deixei repousar junto das peças encontradas na Huaca Rajada , sem dúvida que ela se qualificava como uma reliquia antiga e valiosa !


O dia não ia terminar sem mais um susto amigos ! Aconchegada que estava já no avião que me levaria de volta a Lima reparo num clarão intenso de fogo a sair de um dos motores . Durou segundos mas o suficiente para me deixar atenta . De repente segundo lampejo de fogo ! Porra ! Mas que é isto ? Na fila ao meu lado viajava um técnico da Star Peru e eu não estive com meias medidas , levantei-me e como leiga que sou fui-lhe perguntar se havia razões para estar preocupada ? Pelos vistos é algo normal quando se liga o avião e que podia estar descansada . Sendo assim fui-me sentar ...... mais ou menos tranquila . Fiquei feliz quando aterrei em Lima incólume às dez da noite .

Eu não queria mesmo incomodar o Pedro de novo , só ia estar umas horas em Lima mas depois da experiência fabulosa do Telo "Ai Ui" e a precisar urgentemente de uma máquina fotográfica liguei-lhe a pedir guarida até às 06h00. No dia seguinte partia para um merecido descanso de 4 dias na selva em Puerto Maldonado. Em três dias tinha dormido em média 3 horas por noite nem sempre nas melhores condições e percorrido centenas de kms !

Adormeci tranquila ...