quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

02 Dec 2010 - Chiclayo e a morte da minha maquina fotográfica

O meu interesse em Chiclayo, uma vez que a cidade em si nao tem nada, era puramente para ver o espólio do senhor de Sipan , o complexo arqueologico de Tucume e a Huaca Rajada. Sou uma freak por estas coisas. Bem , na verdade , considero-me bastante eclética , gosto tanto de cultura como praia , como cidades !!










Chego a Chiclayo às 09h30 e o tour começa de imediato. Se no dia anterior não tinha tido ninguém com quem falar para além do guia neste dia conheci um grupo muito diverso . O Pablo , argentino , o Daniel australiano e a Maribel peruana arequipeña . Todos verdadeiros mochileiros.


O Pablo tem dois empregos em part-time . De manhã é bancário e de tarde .... carpinteiro ! Dá para imaginar ? Viaja com autenticas reliquias nos pés . Desde há dez anos que sempre vai mundo fora usa as mesmas sapatilhas ! Mais parece que traz umas mascotes calçadas ! Estão praticamente desfeitas ao ponto de se verem os dedos dos pés ! Devem ser uma amuleto ou algo do genero !
O Daniel é um australiano com um sotaque quase impossivel de entender e a onda dele o Surf ! Com ele não há stress , só boa disposição e relax ! Para tudo é take it easy . Só trabalha para ter dinheiro para andar a surfar em todo o lado . E claro que já tinha ouvido falar da Ericeira . Em Sidney trabalha no ramo da construção civil e faz planos de viajar por um ano mas sempre que o dinheiro aperta regressa para mais uns meses ao trabalho para ganhar o suficiente para partir de novo . O acessório indispensavel dele nas viagens é a música , em Cuzco partiu o Ipod e mandou vir de casa outro porque não suporta a falta de música .
A Maribel é 100% latina , toda ela é fogo. Fala alto e com gestos , ri-se muito e ruidosamente e tem sempre que ter razão .

Ela e o Daniel conheceram-se em Arequipa e são uma espécie de namorados temporários , enquanto o trajecto for favoravel aos dois. A dinâmica entre eles é fenomenal pois são o casal mais improvavel mas que funciona . O Daniel goza com a impetuosidade dela e o facto de estar sempre a reclamar e ela ri-se histérica mas nunca se cala . E mais engraçado é que o Daniel nao fala espanhol mas percebe quase tudo e a Maribel mal fala inglês !

Eu o Pablo passamos o dia a deitar axas á fogueira entre eles mas os quatro divertimo-nos imenso com isso !




O complexo arqueologico de Tucume e a Huaca Rajada pertencem ambos ao tempo da cultura Moche e salvaram-se de ser saqueados serem descobertos em 1987 porque o tempo e as intempéries fizeram com que as piramides de barro se assemelham-se a simples montes disfarçados completamente na paisagem da região.


Por este motivo na Huaca Rajada descobriram até agora 15 túmulos completamente intactos e recheados de peças de cobre , ouro , cerâmica e esqueletos . A Huaca Rajada servia como local de enterro ceremonial para pessoas importantes e foi feita em forma piramidal ao longo dos séculos que os Moche habitaram a zona . Ainda hoje realizam escavações e continuam a encontrar sepulturas.

 
A mais importante de todas foi a do Senhor de Sipán , um dos governantes da época. Enterrados com ele estavam a mulher , duas concubinas , um guerreiro , dois homens , um menino , um lama e um cão que voluntariamente ou não foram sacrificados na altura da sua morte. Juntamente com 1600 peças todas em exposiçao no Museu das Tumbas Reales de Sipan que visitamos no fim do dia.


Outros achados importantes foram os tumulos de um sacerdote , dum chefe militar e do velho senhor de Sipan , cujos testes de ADN provaram ser o tetra-avô do senhor de Sipan.

Eu , o Pablo e o Daniel partilhavamos um problema comum - todas as nossas máquinas fotográficas tinham problemas !

A do Daniel parecia um chocalho , a do Pablo tinha uma uma mancha monstra no visor e de vez em quando também não ligava . A minha estava cada vez pior . O que eu achava que poderia ser apenas um problema mecânico transformou-se num problema electrico . De tanto puxar o botão com o meu travessao Macguiveriano baralhei os circuitos da dita e agora nenhum botão funcionava . Lá consegui uma maneira original de ir tirando fotos . Desligava a máquina abrindo o compartimento das pilhas e ligava fechando o mesmo compartimento. Desta maneira conseguia tirar uma única foto de cada vez. A cada foto que tirava tinha que repetir o processo todo de novo . Abre , fecha , dispara , abre , fecha , dispara ! E claro rezava para que a máquina estivesse a gravar as fotos no cartão de memória !! Como os botões não funcionavam não tinha como saber até poder inspeccionar o cartão num computador , mas as minhas preces eram fortes !! Não sabia muito bem que mais podia fazer mas ainda me faltavam 6 dias de viagem e iria ter que arranjar uma solucção , a minha querida máquina contra todas as minhas expectativas estava no fim de vida . Por pouco não a deixei repousar junto das peças encontradas na Huaca Rajada , sem dúvida que ela se qualificava como uma reliquia antiga e valiosa !


O dia não ia terminar sem mais um susto amigos ! Aconchegada que estava já no avião que me levaria de volta a Lima reparo num clarão intenso de fogo a sair de um dos motores . Durou segundos mas o suficiente para me deixar atenta . De repente segundo lampejo de fogo ! Porra ! Mas que é isto ? Na fila ao meu lado viajava um técnico da Star Peru e eu não estive com meias medidas , levantei-me e como leiga que sou fui-lhe perguntar se havia razões para estar preocupada ? Pelos vistos é algo normal quando se liga o avião e que podia estar descansada . Sendo assim fui-me sentar ...... mais ou menos tranquila . Fiquei feliz quando aterrei em Lima incólume às dez da noite .

Eu não queria mesmo incomodar o Pedro de novo , só ia estar umas horas em Lima mas depois da experiência fabulosa do Telo "Ai Ui" e a precisar urgentemente de uma máquina fotográfica liguei-lhe a pedir guarida até às 06h00. No dia seguinte partia para um merecido descanso de 4 dias na selva em Puerto Maldonado. Em três dias tinha dormido em média 3 horas por noite nem sempre nas melhores condições e percorrido centenas de kms !

Adormeci tranquila ...

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